terça-feira, 3 de julho de 2012


                        Expedição sem vaidades

Uma equipe de TV fazia a cobertura de um evento esportivo aquático em Ilha Bela, estado de São Paulo. Tratava-se de um grupo de velejadores mirins com seus barcos com velas coloridas, da classe Optimist.

A repórter, uma jovem ávida por novidades e sedenta por conseguir uma boa matéria para alavancar sua carreira, estava entediada tentando conseguir uma nova forma de entrevistar aquelas crianças que não estavam nem aí para as câmeras, ao contrário dos orgulhosos pais, que sempre vinham até ela para fazer algum comentário sobre seu pimpolho e tentar uma entrevista.

Após duas horas, muitas cenas captadas, finalmente algumas entrevistas e tudo pronto para partir, a repórter percebe uma movimentação diferente no outro canto do píer em que estava.

Por volta de 30 pessoas, bastante alegres e barulhentas pareciam comemorar algo ao lado de um veleiro atracado ali. O barco não era muito grande, mas havia alguns adesivos de empresas colados em seu costado e também aparentemente em sua vela mestra, ainda enrolada. A repórter e seus dois cinegrafistas foram ao encontro daquela agitada turma.

Chegando até o outro lado e já pedindo para começarem a filmar algo, ela se aproxima do grupo indo na direção de quatro rapazes que estavam com uniformes semelhantes, também com algumas logomarcas de empresas. O grupo todo parou para saber o que estava acontecendo e os quatro rapazes faziam uma cara de assustados com a presença da mulher desconhecida, seu microfone em punho e as câmeras, mas logo relaxaram.

Apresentando-se, a distinta repórter perguntou se a autorizariam fazer algumas perguntas e já adiantou que entendia pouco de vela. Um dos quatro rapazes se adiantou, como se fosse o líder do grupo, parecendo ser o mais sóbrio de todos.

Depois da breve apresentação e sem mais rodeios, começam as perguntas para o rapaz, sem nenhuma combinação prévia, pois tinham pouco tempo para terminar o dia de entrevistas. A repórter começa a cena do jeito clássico:

- Estamos aqui em Ilha Bela, a capital da Vela do Brasil, com este cenário maravilhoso ao fundo para conversar um pouco com estes corajosos rapazes que pretendem zarpar daqui alguns instantes para uma perigosa aventura. Dirigindo-se a um deles perguntou:

- Qual o destino da viagem de vocês?
- Bem, a ideia é chegar até as Ilhas Falklands.

A repórter, notadamente sem saber onde eram as tais ilhas, fazendo menção de que perguntaria algo, subitamente foi interrompida:

- Falklands NO. Las Malvinas son Nuestras. - E viva Maradona!!! 


O inflamado indivíduo, aparentemente bêbado, vestindo uma camisa da seleção Argentina, gritou essas palavras de ordem indo na direção da repórter. A mesma levou um grande susto, mas logo foi acalmada pelo rapaz entrevistado, que disse:

- Não liga não, este é nosso apoio em terra, ele é um radioamador argentino amigo nosso...


Refeita do susto, e já sabendo de que ilhas falavam, retorna à entrevista.

- Mas então. Vocês planejaram com quanto tempo de antecedência a viagem, muitas dificuldades?
- Não, nenhum problema não. – responde o rapaz com “ar” despreocupado.
- Mas uma viagem assim requer preparativos especiais, vocês têm até equipe de terra. - diz a repórter olhando de canto de olho para o agitado Argentino.
- Hahaha . Uma gargalhada debochada foi a única resposta que teve.
- Devem ter equipamentos de última geração?
- Não, tem não.
- Então deve ser uma equipe bastante experiente, muitas aventuras anteriores?
- Não, Não.

Insistido ainda para obter uma resposta mais emocionante, a novata em entrevistas começa a ficar inquieta e pergunta:
- Bem, vocês devem ter algum objetivo para esta viagem, por que escolheram as...,- nesse momento olhou para o argentino e completou:
- Malvinas?

Nisso passa à frente outro da equipe, um rapaz mais alto, bastante branco, loiro, bochechas rosadas, com um copo de bebida na mão, já um pouco alegre e diz:

- Sabe moça, a ideia era ir para a Escócia, sabe onde é né? No Reino Unido, o caso é que é muito longe, queríamos conhecer alguns Pubs, destilarias, degustar Whisky. Então decidimos ir para a concessão Britânica mais próxima daqui...
- Hehehe. – termina a resposta rindo, aproximando-se a quase um palmo do rosto da repórter, quando novamente o Argentino grita:

- LAS MALVINAS SON NUESTRAS!!!


A entrevistadora começa ficar nervosa, mas ainda assim tem esperanças de conseguir algo:

- Bom, vocês pelo que vi, em seus agasalhos e no barco, tem patrocinadores?
- Não, não. - responde um terceiro do grupo. - Nós colamos estes adesivos na roupa e barco só para parecer coisa mais séria mesmo.
- Mas quem vai pagar a viagem?
- Uai!!! Nós mesmos!!  Com ajudinha dos pais, é lógico. Responde o que parecia o mais novo do grupo.

Nesse momento todos ali começam a ficar mais dispersos, continuando a festa, e então a repórter faz mais uma pergunta, quase aos berros:

- Vocês devem querer passar uma mensagem para todos aqueles que ficam e irão acompanhá-los?
 - Não, não temos não... – diz o velejador deixando praticamente a mulher falando sozinha

A festa continua e a repórter chora.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O cão e o homem















Gosto de contos. Divido com vocês este que vivi e escrevi um pouco antes do lançamento da continuação de “Sentidos do Tempo”, a Luz de Avil.

O cão e o homem

Numa dessas noites frias nas terras mais altas das Minas Gerais num sítio da família, eu e mais minha esposa resolvemos fazer uma pizza num forno a lenha, daqueles antigos, de ferro fundido.

Numa varanda que se faz depois da porta do pequeno aposento transformado num bar onde estava o forno, enquanto Alessandra e eu conversávamos sobre os lançamentos de nossos livros, ela esticava a massa na forma redonda de alumínio.

Na rádio uma seleção de músicas antigas, num baixo volume, que nos dava a oportunidade de trocar ideias e escutar o som dos pássaros que se preparavam para empoleirar com o sol que acabara de cair atrás da montanha vista no horizonte.

Após alguns minutos estava eu diante do forno a colocar a massa para fazê-la pré-assada e depois colocar os ingredientes principais e Alessandra a sentar-se num banco rústico ao longo do balcão entalhado em madeira de eucalipto.

Ao virarmos para a porta e sair para esperar a assada, deparamo-nos com um cão. Porte médio para grande, cor amarelada, focinho fino e alongado, pelo liso e bem cuidado, olhos cor caramelo claro, que abanava o rabo como que a nos cumprimentar entusiasticamente.

Logo comentamos que o cão não era conhecido e achamos que deveria ser do caseiro que morava no sítio ao lado, não mais do que a quinhentos metros dali.

A desconfiança logo se desfez, pois o caseiro chegou em seguida e disse que não sabia também de onde viera aquele animal.

Uma boa conversa, a massa pronta para finalizar a pizza, o caseiro se despede e ficamos, Alessandra e eu, novamente na companhia um do outro, incluindo o cão. Extremamente atencioso logo demos a ele o nome de Sombra, em homenagem a alguns dos personagens do meu livro “Sentidos do Tempo”. A cada ruído diferente estava ele de orelha em pé, procurando algo ao redor. Ao estalar de um dedo logo ficava a nos olhar e se alegrar.

Depois de algum tempo terminamos o preparo da pizza. Foi a nossa janta, regado a um bom vinho do Sul do Brasil. No entanto sobraram dois pedaços, o que prontamente ofereci ao nosso visitante, segurando pela borda. Ao contrário de muitos cachorros, este delicadamente segurou o alimento e esperou que o soltasse, para então ir comê-lo há alguns metros dali, o mesmo ocorrendo com o outro pedaço.

A noite continuou até que nos retiramos para dormir. Na insistência de Sombra em ficar no local, preparei um tapete para que pudesse deitar na varanda e ali passar a noite se quisesse.

No dia seguinte, noite tranquila e bem descansada, ao sair do quarto, Sombra ali estava a me cumprimentar com seu abano de cauda sem cerimônias.

Pensei então o que poderíamos fazer, pois o cão parecia mesmo que estava perdido. Então, antes de preparar o café, juntei alguns alimentos da geladeira e preparei uma refeição improvisada para o nosso visitante. O cão se fartou, tranquilo, sem devorar de uma vez só, mas lambeu o recipiente todo ao terminar. Após fazer isso me olhou de forma serena e veio até a minha mão lambendo-a uma só vez e se retirou para mais longe, sentando-se em baixo de um arbusto como que a contemplar a paisagem do local.

Após Alessandra levantar e tomarmos o café, preparamo-nos para um passeio, que consistia em seguir pela estrada, encontrar um local para almoçar e passar a tarde em São Thomé das Letras, uma cidade conhecida pelo misticismo e a mineração de pedras para a construção de pisos.

Ao sairmos do sítio, Sombra nos seguiu até a porteira e, ao contrário do que imaginávamos, não seguiu o carro pela estrada, o que nos causaria muita preocupação. No entanto este ficou a nos olhar partir dali. Olhava pelo retrovisor e o via sentado a frente da porteira. Numa fração de segundos entre o olhar para o caminho de terra, não o vi mais.

O passeio ocorria conforme planejado. Paramos para almoçar uma fabulosa Traíra sem espinhos na beira da rodovia e após isso seguimos para São Thomé.

Havia visitado esta pequena cidade duas vezes, ainda na década de 80, e depois nunca mais retornei. Pouco mudara, a não ser o tamanho das escavações no seu entorno para a retirada das pedras de decoração, que, oportunamente, tem o nome de Pedra Mineira ou Pedra São Thomé.

Passeamos pelo centro da cidade, praça central, caminhada para alguns pontos turísticos e ao final do dia, antes de partir de volta ao sítio, seguimos até um banheiro público ao lado da igreja matriz. Uma mulher, funcionária da prefeitura fazia a limpeza. Minha esposa me passou sua sacola e outros objetos e adentrou ao local, dividido em duas portas, feminino e masculino.

No momento em que esperava do lado de fora da pequena construção, chega um homem, cerca de 30 anos, cabelos longos, castanho amarelado, barba longa, com roupa de algodão cru, calça amarrada por cordão de pano na cintura. Com calma ele aguarda a funcionária da prefeitura terminar de passar um pano na entrada do lado masculino.

Então a mulher diz num tom um pouco ríspido:

- Quer entrar, entra logo! Que depois termino.

E houve a resposta:

- Não tenho pressa minha senhora, pode terminar o serviço.

A mulher só o mira de canto de olho e continua a esfregar o piso.

Percebo que o rapaz está com pés descalços e imagino que era melhor mesmo que ele esperasse a limpeza, por se tratar de um chão lá não muito passível de estar em boas condições o tempo todo. Isso me causa um sorriso.

Ainda estava eu a sorrir com a situação e o rapaz volta-se para mim:

- Oi, boa tarde, tudo bem?

- Tudo bem. – respondo

- Poxa!! O café da manhã estava bom, não é mesmo?

Sem entender porque me perguntara isso, apenas devolvi:

- Sim estava!

- Obrigado pela pizza de ontem à noite, foi você quem a ofereceu, não?

Era um pouco diferente na aparência, mas o sujeito não parecia estar bêbado ou algo parecido, na verdade aparentava estar bastante lúcido. Não me importei e respondi:

- Acho que tem gente muito parecida comigo por ai.

- Não, foi você mesmo que me ofereceu a pizza, estava com muita fome. Obrigado!!

Não respondi nada, pois nessa hora ele me encarava e até consegui reparar na cor de seus olhos. Caramelo claro.

Ao retornar para o sítio, não encontramos mais o nosso amigo Sombra.


C. Vagley

Lançamento


O lançamento dos novos títulos da AB&V Edições foi um sucesso!

"O Exercício da Beleza e da Felicidade" de Alessandra Bonafé, e "Sentidos do Tempo: A luz de Avil", de C.Vagley, foram lançados simultaneamente na noite de 14 de junho, na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi, em Campinas.

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Sentidos do Tempo - A luz de Avil


O homem sempre foi fascinado pela ideia de viajar no tempo. Seja pela vontade de reparar um erro, uma tragédia, reencontrar um ente querido ou pela simples curiosidade, todos já sonharam com esta possibilidade.


Prepare seus sentidos para uma viagem no tempo e todas as implicações que dela possam resultar. Inclusive a possibilidade do amor entre pessoas de épocas diferentes. Sentidos do tempo – A Luz de Avil mistura realidade de um cotidiano simples, ciência real e também fantástica.

Neste livro surpreendente, C. Vagley leva os personagens a uma série de descobertas.
Um aroma, um sabor, a lembrança do primeiro beijo...

Aproveite-se de seus sentidos e faça a viagem mais fantástica que existe. A história gravada e que nada pode apagar.


O físico George era professor renomado em uma universidade norte-americana até ser forçado a interromper sua carreira por defender a tese de que é possível viajar no tempo. Ele então emigra com a esposa, bióloga e física brasileira que conhecera como sua aluna, para o país de origem dela. Quando após uma tempestade George desaparece, a vida pacata do casal numa pequena cidade do interior é quebrada por uma sucessão de fatos inimagináveis.


Sem êxito, Raquel procura o marido por toda a cidade e acaba entrando em contato com Edward, ex-aluno de George e professor de Física na mesma universidade onde ele lecionava. Preocupado com o sumiço do amigo, Edward viaja para o Brasil e passa a estudar as anotações do ex-professor, descobrindo que ele não apenas desenvolveu secretamente sua teoria de viagens no tempo, mas que inventou um aparelho - a caixa preta - para tentar a viagem na prática.

A partir desta descoberta muitos acontecimentos levarão o leitor a uma aventura repleta de emocionantes novidades a cada capítulo. C. Vagley, ao misturar a vida cotidiana simples e a ciência real, conta uma surpreendente estória em que ficção, ciência, história e aventura se misturam e conduzem o leitor a repensar o que sabe sobre o presente e o passado, descobrindo que o tempo está longe de ter um único sentido.